Série Reforma 500 anos #5
Reforma- Matinho Lutero parte-2
De volta a
Wittenberg, após passar um tempo em Roma, Lutero obteve seu doutorado em
teologia em 1512 e começou a fazer preleções sobre os Salmos seguindo para a
epístola aos Romanos. O monge Lutero não parou e logo fez palestras na epístola
de Gálatas, Hebreus e voltou para Salmos. Devido a sua dedicação, o monge
agostiniano demorava em média de 1 a 2 anos para expor estes livros para seus
alunos.
Conforme nos narra John Fox ”[...]
Lutero começou a explicar a Epístola de Romanos [...] Nesses textos ele mostrou
a diferença entre Lei e o Evangelho, mostrou o erro dominante em aulas e
sermões, por exemplo, que o homem pode merecer a remissão de seus pecados e que
se justifica perante Deus por meio da disciplina externa, como pensava os
fariseus” (2005, p.140).
De acordo com Justo González: “A
grande descoberta veio provavelmente em 1515, quando Lutero começou a ministrar
palestra sobre a epístola aos Romanos, pois ele mesmo disse, depois, que foi no
primeiro capítulo dessa epístola onde ele encontrou a resposta para suas
dificuldades” (2011, p.30). Visto que no primeiro capítulo da epístola de
Romanos está o conceito da “justiça de Deus”, como pode ser visto, por exemplo,
em Romanos 1.17.
Enquanto Lutero
se mantinha ocupado com as Escrituras, analisando-as de modo sistemático,
começou a trilhar o caminho da Reforma. Franklin Ferreira cita uma observação
feita pelo próprio Lutero algum tempo mais tarde: “No transcorrer desses
estudos, o papado soltou-se de mim”. Lutero não parou, continuou a labutar nos
textos sagrados e não conseguiu conciliar as Sagradas Escrituras aos
ensinamentos da igreja de Roma. [1]
A propósito,
neste processo de busca para uma fonte de autoridade para vida e ensino da
igreja, Lutero foi abandonando o método de interpretação alegórico, que era
dominante, e os comentários escolásticos, pois não contribuíam para uma
compreensão do texto. Na verdade, o que Lutero entendeu por revelação do
Espírito Santo foi que a Escritura é a Palavra de Deus sendo esta tão
verdadeira e dotada de autoridade quanto o próprio Deus.
Nesse mesmo ano
de 1515, o conselho municipal de Wittenberg pediu-lhe que auxiliasse na
catedral, tanto na pregação como no confessionário, pois o padre da localidade,
padre Simão Heins, se encontrava enfermo. No ano seguinte, Lutero tornou-se tão
popular como pregador que o povo exigia dele um sermão por dia e assim como
seus sermões, as suas preleções não era menos estimada.
O historiador Lars P. Qualben dá as
seguintes razões da popularidade de Lutero:
Foi Lutero o primeiro professor alemão que usou a língua materna para
explicar os termos técnicos; as preleções se baseavam nos textos hebraicos e
gregos e não na teologia escolástica tradicional; seu apelo constante a Bíblia
dava aos seus sermões e preleções originalidade e vigor; Ele dava a linguagem
do povo[2].
Quanto ao
descontentamento do monge com a doutrina papista, em abril de 1517 publicou 151
teses sobre a justificação. Em setembro deste mesmo ano publicou 97 teses
contra a teologia escolástica sobre como melhorar o curso e o método de estudo
na Universidade de Wittenberg. Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou
na porta da igreja de Wittenberg 95 teses ou disputatio em latim[3] contra a venda de indulgências, no intuito de provocar uma discussão
acadêmica, como era comum.
Segundo Muirhead: “As indulgencias em tempos anteriores da Igreja,
tinham servido para rebaixar a severidade da penitência ou da disciplina
imposta pela Igreja aos penitentes que tinham sido culpados de pecado mortal. A
doutrina da penitência exigia que por tais pecados ajuntasse uma satisfação à
contrição e a confissão” (1963, p.60). As indulgências eram cobradas por um
Padre dominicano chamado Johann Tetzel (1465-1519). Tetzel estava em uma
missão para Alberto de Mainz[4]
(Stephen J. Nichols 2017, p.41). De acordo com o autor Stephen J. Nichols,
Tetzel inventou um esquema para levantar as finanças da igreja romana, uma vez
que os cofres estavam vazios por causa de obras para a Basílica de São Pedro. A
ideia de Tetzel para levantar fundos foram as indulgências. Stephen J. Nichols
chama a atenção para entender o sistema de penitência da igreja romana:
A penitência envolvia quatro passos:
contrição, confissão, satisfação e absolvição. A indulgencia de Tetzel, que
vinha com o selo de aprovação de Leão X[5],
solapava esse processo ao reduzir os primeiros três passos para um só, bastante
simples: a compra de uma ficha de indulgência. Com a indulgência, Tetzel
assegurava a seus compradores a plena absolvição ou o ‘completo perdão de todos
os pecados’. Tetzel oferecia indulgência para as pessoas e também para seus parentes
mortos que estivessem sofrendo no purgatório.[6]
É possível perceber que
Lutero estava furioso com as indulgências, até porque seus paroquianos de
Wittenberg viajavam a curta distância até Mainz para comprá-las, isto alimentou
a fogueira do coração de Lutero para escrever as 95 teses. Em relação ao papa,
ele não ficou do lado de Lutero, o que iniciou o processo que levaria o monge
para longe de Roma.
Por Georgington
de Souza Ribeiro
Revisão: Thalyta
Priswa
[1] Nichols,
Stephen J. Além das noventa e cinco teses: a vida, o pensamento e o legado de
Martinho Lutero/ Stephen J. Nichols; [tradução: Elizabeth Gomes]. - São José
dos Campos, SP: Fiel, 2017, p.39.
[2] Qualben Lars P. A History of the Christian Church, p.216 citado por Muirhead, H.H O Cristianismo
Através dos Séculos., Editora
Casa Publicadora Batista, Rio de Janeiro 1963 Volume II 4° edição p.58
10 A
disputatio consistia no diálogo entre
o mestre e os alunos acerca de determinada tese ou assunto; ao contrário da lectio, que implicava a atitude passiva,
despertava a atividade intelectual dos alunos. Tornou-se, por isso, o processo
demonstrativo dos conhecimentos adquiridos e da respetiva compreensão e
aplicação doutrinal, filiando-se a sua origem na quaestio, a qual, por seu
turno, nasceu da expositio e da comentatio. A discussão dos temas de
disputatio fazia-se por, contra e solutio,
isto é, pela exposição da argumentação afirmativa, pela da negativa, ou
contrária, terminando pela resolução. As disputationes
podiam ser: ordinárias, nas quais o mestre formulava o tema da disputatio (ou quaestio), assistia à respetiva
discussão e terminava por formular a resolução; gerais ou de quodlibet, que versavam sobre temas
livres (quaestiones de quodlibet),
mais solenes, e que tinham lugar, em regra, pelo Natal e pela Páscoa;
magistrais, entre dois mestres, sustentando cada um o seu modo de ver; e sophismata, que eram justas dialéticas
para a demonstração ou refutação de paralogismos. Fonte: http://www.joaquimdecarvalho.org/artigos/artigo/192-III.-Metodo-de-ensino-nas-Universidades-medievais-metodo-escolastico-/pag-2
[4] Foi um arcebispo de
Mainz e de Magdeburgo, príncipe-eleitor do Sacro Império Romano-Germânico e
administrador apostólico da diocese de Halberstadt.
[5] Foi Papa de 1513 -1521.
[6] Nichols, Stephen
J. Além das noventa e cinco teses: a vida, o pensamento e o legado de Martinho
Lutero/ Stephen J. Nichols; [tradução: Elizabeth Gomes]. - São José dos Campos,
SP: Fiel, 2017, p.42
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