Série Reforma 500 anos


                    
Reformadores antes da Reforma- Valdenses[1]

-Pedro Valdo

Os historiadores que têm se especializado nos valdenses sustentam a ideia de que as doutrinas dos valdenses não se originaram com Pedro Valdo. Mas quem foi Pedro Valdo? E quem foram os valdenses?

Pedro Valdo foi um rico negociante de Lion, que não podendo encontrar paz para sua alma e nos ritos e penitências da Igreja de Roma, procurou um sábio teólogo com a finalidade de saber o caminho mais seguro para o céu. Este teólogo reitera as palavras do nosso Senhor Jesus ao jovem rico de Mateus 19.21:Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.

Segundo Muirhead (1959, p.315), “se Pedro Valdo tivesse sido um crente experimentado e instruído, teria compreendido que Jesus se refere à submissão absoluta a vontade divina, mas sendo homem simples, voltou a sua casa, dividiu os bens com a esposa, que não participava de sua inquietação pela salvação, deu rico dote as suas duas filhas e distribuiu o resto em esmola aos pobres. ”

Devido sua pouca instrução, certamente não sabia latim, isso explica o porquê de Valdo ter contratado dois padres que foram incumbidos: um de traduzir as Escrituras para língua do povo, e o outro de copiar as Escrituras. Segundo Muirhead, o ex-negociante estudou as Escrituras, meditou e começou a ensinar a população. Andando, Pedro Valdo viajava de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, contando a historia da cruz e seu testemunho de conversão no qual o povo escutava com grande desejo.

Dessa forma, Pedro Valdo começou a ter seguidores e o número de discípulos só aumentava. Devido a este fato, recebeu todo tipo de auxílio destes alunos para continuar ensinando ao povo. Por sua vez, ao ensinar as Escrituras para as pessoas, ele conseguiu arrepender-se dos seus pecados como nos informa Muirhead (1959, p.316). Então formou-se um movimento conhecido como “os homens pobres de Lion”. Eles foram conhecidos desta forma porque como Pedro Valdo, eles vendiam suas propriedades e davam aos pobres e em seguida se dedicavam a estudar a palavra de Deus.

Após o sucesso da iniciativa de Pedro Valdo em pregar a palavra de Deus, os líderes da igreja romana não gostaram nada dessa atitude de Valdo acompanhado de seus seguidores. O arcebispo de Lion com ciúme da fama do pregador leigo e seus aprendizes, mandou que todos se calassem. A resposta deles foi curta e firme: “Devemos obedecer antes a Deus que aos homens”. Uma citação do livro de Atos 5:29 de Pedro e os demais apóstolos. Eles apelaram para o Papa, que era Alexandre III. Valdo foi pessoalmente a Roma em 1177.

 Segundo Dr. H.H. Muirhead na sua obra O Cristianismo Através dos Séculos, nos informa que o Papa recebeu o pregador de forma bondosa como um varão santo, e ainda concedeu até beijar sua face, mas disse-lhe que não podia pregar sem o consentimento de seu diocesano.[2] Na verdade, o Papa até este tempo, considerava Pedro Valdo como um fiel filho da igreja romana; apenas queria falar sobre ter achado o Salvador. Em outras palavras o que Valdo queria era pregar o evangelho no qual foi negado.

Depois de pedir aos líderes para pregar e estes recusarem a petição de Pedro Valdo, o ex negociante de Lion sentiu-se chamado por Deus para continuar a ensinar e pregar a palavra a todas as pessoas, sem demora desobedeceu ao chefe da igreja romana e preferiu obedecer a Deus do que aos homens. A partir daquele momento seus seguidores foram tidos como hereges e em 1184 foram excomungados e expulsos da cidade pelo concílio de Verona como afirma Muirhead (1959, p.317).

A propósito, Muirhead relata que o primeiro objetivo de Valdo foi semelhante ao de Lutero: reformar a Igreja. Devido à insubordinação a hierarquia romana, estes tais líderes não concederam a licenciatura a Pedro Valdo e seus seguidores. Assim o grupo sofreu todo tipo de perseguição.
Por outro lado, não sabemos como era feita a pregação da palavra de Deus por Valdo e seus discípulos, se era feita de forma fiel as Sagradas as Escrituras. Mas podemos observar como este movimento evangélico se formou e como de fato procurou pregar o evangelho. A hostilidade da igreja romana era cada vez mais intensa a Valdo e seus seguidores. Ao passo que este movimento era perseguido, o número de seguidores também aumentava.

Este crescimento explica-se por causa da antipatia do povo contra a Igreja de Roma, causada pela corrupção no clero e entre os leigos. Em 1217 Pedro Valdo morre, mas a morte deste líder e as cruéis perseguições da igreja romana não conseguiram abafar este movimento que foi aumentando consideravelmente na Europa Continental.

Valdenses[3]

Os valdenses ganharam este nome do Papa Lúcio III, que depois de excomunga-los e expulsa-los da cidade, os chamou de Valdenses. Juntamente com a maioria dos estudiosos, concordamos que existia um movimento antes de Pedro Valdo, mas que não tinha este nome. Como afirmamos acima os valdenses ganharam este nome pelos seus adversários, a saber os líderes da igreja romana.

Os valdenses, uma vez fora da igreja romana, excomungados pelo Papa, começaram a refletir sobre assuntos da fé cristã. Segundo Willian VanDoodewaard[4] uma delas foi como o cristão guiaria sua vida e qual seria a sua regra de fé e prática e estes homens entenderam que seria as Sagradas Escrituras em particular o Novo Testamento que guiaria para a conduta e prática de toda fé cristã. Assim, com este pensamento de estudar as Escrituras, logo é aderido nas vilas e aldeias adjacentes e acontece uma variedade de movimentos valdenses a surgir.

Esses homens se instalaram nas montanhas albinas do norte da Itália e se dedicaram a palavra de Deus chegando a fundar “ College of theBarbes” que em uma tradução livre para o português significa “Escola dos Barbas” localizada em Piemonte ao norte da Itália. O lema dos Valdenses era: “Lux Lucent In Tenebris” estas palavras que estão escritas em latim significam numa tradução livre para o português “luz que brilha nas trevas” era com este lema que os valdenses continuavam pregando a palavra e ensinando no calor do sol ou no frio dos vales italianos.

Dessa forma eles começaram a estudar as Escrituras e fazerem várias traduções do Livro Sagrado. Também fizeram escolas para treinar pregadores e resistiram a todos os tipos de violência, mas não negaram sua fé e foram mortos a fio de espada. Estes homens também tiveram suas crianças tomadas e colocadas em conventos e foram apedrejados por amor as Escrituras.
Theodoro Beza, discípulo e sucessor de Calvino, expressa a convicção do século XVI nestas palavras:
                        “Quanto aos valdenses, seja-me permitido chamar-lhes verdadeira semente da primitiva e pura igreja cristã, desde que são eles que têm sustentados, como é abundantemente manifesto, pela maravilhosa providência de Deus, de modo que nem as tempestades sem fim que têm abalado todo mundo cristão por tantas gerações sucessivas, nem o Ocidente tão miseravelmente oprimido pelo falsamente chamado bispo de Roma; nem as horríveis perseguições expressamente levantadas contra eles, até agora têm podido desviá-los ou forçá-los a se submeterem voluntariamente ao jugo da tirania e da idolatria de Roma”[5]

Segundo VanDoodewaard os valdenses alegam ter sua história antes do século IX, com um espírito independente a parte da igreja romana, eles residiam na localidade de Turim e Milão. Estas igrejas não queriam se submeter a Roma. Eles acreditavam em uma igualdade da igreja. Dessa forma os valdenses já eram protestantes antes mesmos da própria Reforma.
Em outras palavras Pedro Valdo e seus seguidores se vincularam a um movimento pré-existente. Faber diz:
                        “A evidência, que acabo de produzir, prova, não somente que os valdenses [...] existiram antes de Pedro de Lion; mas também, que no tempo do aparecimento dele nos fins do século doze, havia duas comunhões de grande antiguidade. Segue-se, portanto, que mesmo nos séculos doze e treze, as igrejas valdenses eram tão antigas, que a sua origem remota foi atribuída, mesmo pelos seus inimigos inquisitoriais, ao tempo além da memória do homem. Os romanistas mais bem informados do período, não ousaram fixar a data da sua origem. Eram incapazes de fixar a data exata dessas veneráveis igrejas. Tudo que se sabe é que eles tinham florescido por longos tempos, e que eram muito mais antigos do que qualquer seita moderna”[6]
           
Por Georgington de Souza Ribeiro 









[1] Subtítulo tirado do Livro O Cristianismo Através dos Séculos de H.H. Muirhead, Editora Casa Publicadora Batista, Rio de Janeiro 1959 Volume I 4° edição p.315
[2] O padre dito “diocesano” possui a vocação e a missão próprias de representar Cristo cabeça e Pastor da Igreja diante de uma comunidade paroquial ou função dada pelo Ordinário local (quase sempre o Bispo).

[3] Documentários: Série A Chama Flamejante parte 1- Family Christian Movies.com- In Association With Ambassador Productions. https://www.youtube.com/watch?v=4Lc2Xj81yRQ
[4] Serve como professor de História da Igreja no Puri­tan Reformed The­o­log­i­cal Sem­i­nary desde 2010. Antes disso, atuou como professor universitário em diversas instituições acadêmicas. Sua dissertação de PhD foi publicada em 2011 com o título The Mar­row Con­tro­versy and Seceder Tra­di­tion: Atone­ment, Sav­ing Faith and the Gospel Offer in Scot­land (1718–1799). É pastor na Asso­ciate Reformed Pres­by­ter­ian Church (ARP) e está envolvido na plantação de igrejas com o Northeast Presbytery. Dr. VanDoodewaard e sua esposa Rebecca escrevem no blog The Christian Pundit.
[5] Moreland, History of the Evangelical Chrches, p.7 Citado por Muirhead, O Cristianismo Através dos Séculos Editora Casa Publicadora Batista, Rio de Janeiro 1959 Volume I 4° edição p.318.

[6] Feber, The Waldenses and Albigenses, citado por Muirhead, O Cristianismo Através dos Séculos Editora Casa Publicadora Batista, Rio de Janeiro 1959 Volume I 4° edição p.318.
[7] Crédito da Imagem Reprodução/Google

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