Nasceu o Redentor: o vivo para os mortos


E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo

dos seus pecados. Mt 1: 21

No alvorecer desse dia me sinto alegre lembrando as meditações sobre o advento, seja nos perfis do facebook ou em blogs. No entanto, há uma tristeza em ver outra realidade surgindo num bombardeio de falsas esperanças, palavras bonitas cheio de efeitos, aquele efervescente “espirito natalino” de consumo. Mas será que esse foi o palco do nascimento de Jesus? Será que a pena de Mateus revela isso?
            Segundo o evangelista, o primeiro escândalo foi a notícia de Maria estar grávida sendo ainda virgem e prestes a casar (“prometida em casamento a José” v. 18 do mesmo capítulo – NVI), obviamente José, mesmo sendo justo, ficou nervoso. A palavra “ponderava” (RA) ou “pensava” (NVI) no início do verso 20, pode ter o sentido no grego de “ficou com raiva”[1]. Sendo assim, Maria poderia perder o marido[2] e ser morta por apedrejamento[3]. No entanto, mesmo nervoso José ainda decidia o que fazer, podendo usar o divórcio privado baseado em Nm 5: 11-31[4].
            O segundo escândalo e já incluído o terceiro foi a aparição do anjo em sonho e a teologia de Jesus, v. 20-21. Notavelmente, Deus age para preservar seu Filho. Por que? Porque o verbo encarnado invade a história e habita no meio de inimigos.[5] (Jo 1: 14). Tais inimigos somos nós, o apóstolo Paulo deixa claro na carta aos Romanos[6]. Talvez você esteja pensando que está em guerra com o Deus Todo-Poderoso, mas não é assim! Nessa guerra, antes de você chegar, sua morte já foi declarada. Adão fez isso, por mim e por você. Nele somos mortos diante de Deus.[7]Agora nossa situação ficou ainda mais complicada, não basta ser inimigo e pensar reagir, pois morto não faz nada! Desta forma, qual é a beleza do natal? Qual é o sentido de tanta esperança, felicidade, regozijo, alegria, paz...?
            O verso 21 nos traz a esperança, a boa e alegre notícia: “(...) o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.”. Matthew Henry comenta essa passagem da seguinte forma: “Cristo veio para salvar o seu povo, não em seus pecados, mas dos seus pecados; para comprar para ele não a liberdade para pecar, mas a libertação do pecado, para redimi-lo de toda iniquidade (Tt 2.14)”[8]. “Aquino declara: ‘Em todos os homens, Deus ama a natureza que ele fez. O que ele odeia nos seres humanos são os pecados que cometem contra ele”[9]. Quanto aos nossos pecados, Agostinho afirma que “efetivamente só os nossos pecados separam os homens de Deus. Nesta vida não é por virtude nossa, mas por misericórdia de Deus, não é por poder nosso, mas por perdão dele, que se opera em nós a purificação dos pecados. A própria virtude, seja ela qual for, que chamamos nossa, foi-nos concedida pela sua bondade”[10].
            O salário do nosso pecado é a morte (Rm 3: 23), mas a vida é uma pessoa e tem nome: Jesus Cristo, nosso Senhor (Rm 3: 23). A pessoa da Trindade que fez nascer Jesus da virgem é a mesma que produz em nós o novo nascimento em Cristo, o Espírito Santo. A Trindade está envolvida no cenário. Que Glória!

         “Cristo nasceu durante a noite, uma luz nas trevas”[11], num mundo de “mortos em delitos e pecados”[12] trouxe vida, nasceu para renascermos, viveu por nós para que nele possamos viver. O Cantor Cristão[13], nos deixa um poema teológico a ser cantado: “Cante o povo resgatado: ‘Glória ao Príncipe da paz’. Deus, em Cristo revelado, vida e luz ao mundo traz, nasce para que renasçamos, vive para que vivamos, Rei, profeta e Salvador! Louvem todos ao Senhor!”.

            Nasceu o Redentor, cheio de poder e glória, no entanto, humilhado doando-se por mortos e pecadores para satisfazer a Justiça de Deus, reconciliando consigo o mundo.[14]       
            Por Thiago Andrade


[1] Defesa de Kenneth E. Bailey no livro Jesus pela ótica do Oriente Médio: “ela [Maria] sabia que lhe traria vergonha aos olhos da comunidade e poderia causar-lhe a morte.” p. 43.
[2] Pode parecer estranho que José fosse chamado seu marido. Mas M’Neile explica o fato assim: “Depois do noivado, mas antes do casamento, o homem era legalmente o ‘marido’ (cf, Gn 29.21; Dt 22.23ss.); consequentemente, um cancelamento informal do noivado era impossível: o homem devia dar à mulher um documento por escrito, e pagar uma multa”. Em: Comentário Beacon, p. 30.
[3] Mt 1: 20 e Dt 22: 23,24
[4] D. A. Carson, Comentário de Mateus, p. 100
[5] Paráfrase a Dietrich Bonhoeffer em Vida em Comunhão p. 9
[6] Ira contra o pecado: Rm 1.18; Gl 3.10; Ef 2.3 e que, como pecadores, somos inimigos de Deus em Rm 5.10; 11.28.
[7] Ef 2: 1.
[8] Matthew Henry, Comentário Bíblico de Mateus a João.
[9] Herman Bavinck citando Tomás de Aquino, Dogmática Reformada, vol. 2, p. 454.
[10] Cidade de Deus, vol. II, adaptado.
[11] Vida em Comunhão de Dietrich Bonhoeffer, p. 31.
[12] Ef 2. 1
[13] Geralmente usado pelos Batistas. Hino 27.
[14] Fl 2: 5-11. 2Co 5: 18-21. 
Créditos da imagem: Reprodução

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