O escutar de Deus

Por Georgington de Souza

Você sabe a diferença entre ouvir e escutar?

Muitas pessoas acham que ouvir e escutar são as mesmas coisas. Mas encontraremos detalhes importantes se olharmos para etimologia (origem) da palavra em latim. Veremos que o verbo latino audire que dá origem ao verbo português ouvir, significa capitar sons e ruídos do ambiente. E o verbo latino auscultare que dá origem ao verbo em português escutar, significa ouvir atentamente sons, ruídos e vozes dos seus semelhantes com interesse.  Sendo assim, podemos observar que ouvir é uma função automática e escutar é uma operação que implica no esforço de ouvir com atenção o semelhante.
É fundamental saber ouvir as pessoas, mas quantas pessoas que nós conhecemos não são boas ouvintes?
Por incrível que pareça, existem pessoas dentro das nossas igrejas que não param para ouvir o irmão em Cristo. Elas não dão importância para os outros membros do corpo, que sempre estão necessitados em ser ouvidos, com muita rapidez e demonstrando que não querem perder seus preciosos minutos, conseguem demonstrar a total falta de interesse pelo problema do outro. Não existe nada mais cruel do que privar uma pessoa de falar o que a aflige. Hoje, os relacionamentos pessoais são frios e com desculpas intermináveis para não escutarem umas às outras. Martin Heidegger vai dizer que o ser humano é um ser que fala, e explica que o ser humano fala para existir. Então, precisamos nos comunicar!
Um dos aspectos que os filhos de Deus precisam ter é o amor pelas almas indiscriminadamente. É impossível dizer que nós amamos nosso irmão se temos um relacionamento com ele artificial, como se o mesmo fosse uma ferramenta que usamos e depois jogamos fora. Pessoas não são descartáveis que usamos quando nos interessa ou usufruímos da sua função e depois deixamos paradas em um canto ou jogadas no lixo. As pessoas não são como criados mudos para ficarem no canto de um quarto.
 Jó, em seu momento de dor, estava debilitado pelas suas chagas e pela incompreensão de seus amigos, falou no capítulo 16:6 : Se eu falar, a minha dor não cessa, e, calando-me eu, qual é o meu alívio?”. Mas mesmo com todas essas dificuldades, Deus ouvia atentamente o clamor de Jó. E no capítulo 26, ele destacou a soberania de Deus. Podemos analisar que o ato de prestar atenção quando estamos ouvindo o próximo é um ato divino que expressa o caráter de Deus em nós.
Outro detalhe importante sobre o escutar é, que Deus se relaciona de uma forma linda com aqueles que são atraídos para seu amor irresistível.  O salmista vai dizer que: Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos ao seu clamor.
Salmos 34:15. Então podemos ver que Deus escuta atentamente nossas orações, Ele não é indiferente as nossas dificuldades. Deus sendo atencioso, ensina como devemos tratar nossos irmãos.
Jesus, no encontro com cego de Jericó, ouve o seu clamor e pede que tragam Bartimeu até a Ele. Note que no que o texto em Marcos 10:v 48 vai dizer que as pessoas mandavam ele parar de gritar. Jesus não só ouve, como também manda trazer Bartimeu e pergunta o que ele queria que Ele fizesse. Podemos ver que Jesus escuta e dá total atenção a este homem que não mendigava só por pão e por cura, mas por atenção em todas as áreas de sua vida. Bartimeu não só encontrou aquele que ouviu seu clamor, mas aquele deu os três alimentos nas três divisões do ser humano: corpo, alma e espirito. Bartimeu encontrou aquele que tem todo poder no céu e na terra. Ele foi curado fisicamente, possibilitando trabalhar e ganhar seu sustento; foi curado na alma pela palavra de ânimo para viver e recebeu a graça da salvação sendo declarado salvo pelo o único que tem poder para salvar, Jesus.
Para sermos bons ouvintes temos que ter empatia, do Grego EMPATHEIA, “paixão, estado de emoção”, de EM, “em”, mais PATHOS, “sentimento”. Empatia tem o sentido de saber como seu semelhante si sente ou seja colocar-se no lugar do outro. Se colocar no lugar do outro, é cuidar do que ele precisa para passar aquela dificuldade. Tendo uma total diferença de expressarmos com um simples beijo no rosto, tapinha nas costas ou abraçar de maneira forçada para nos ver livres desta pessoa. É mostrar interesse pelo sofrimento alheio.
As pessoas precisam conviver! O que está acontecendo hoje é que muitas delas estão achando que coexistir e conviver são as mesmas coisas. Coexistir é o que fazemos numa sala de cinema, entramos lá, vemos o filme e pronto! Não estamos interessados na vida das pessoas da frente ou atrás de nós. Conviver é estar junto de forma interativa e se preciso carregar a cruz do outro.
 
Temos que pedir ao Espírito Santo sensibilidade para sermos mais humanos através do evangelho de Cristo. Aí, poderemos passar humanidade em nossas palavras edificando o corpo de Cristo e nossa sociedade. Porque quem ama, escuta seu semelhante.
Referência
Bíblia NVI
Livraria Cultura de Campinas e a Associação Griots - Os Contadores de Histórias -no dia 26/06/2013, a palestra "A importância do Ato de Ouvir" proferida pelo professor Regis de Morais e pela psicanalista Renata Falivene.

Editora: Centauro Eu E Tu Edição: 2, Ano: 2008, Buber, Martin 

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