Quem estava na Cruz?
“Pedro
respondeu: ‘Tu és o Cristo’ [...] Então Pedro, chamando-o à parte, começou a
repreendê-lo. [...] O Cristo, o Rei de Israel... Desça da cruz, para que o
vejamos e creiamos!” Mc 8: 29, 32 ; 15:32
Ao percorrer o corredor da história da igreja a cruz
de Cristo foi motivo de diversas discussões E os donos da pergunta, a saber,
“Quem estava na cruz”, que provocou controvérsias têm endereço: os gnósticos. No
entanto, meu objetivo não é tratar deles, mas meditar no cenário da cruz e
enxergar ali judeus, romanos, gregos e questionar: para eles, quem estava na cruz?
O
evangelho de Marcos não poupa o desentendimento dos discípulos acerca do
propósito de Cristo, no qual “... a morte é o cumprimento da vida. Jesus veio para
morrer.”[1] Da
mesma forma, ele não economiza nos escárnios dos personagens no relato da
crucificação. Diante do ministério público e privado de Jesus, Marcos deixa
evidente que “antes da ressurreição ele era o Messias na forma de servo, em uma
forma que Sua dignidade como Filho de Deus estava escondida aos olhos dos
homens.”[2]
O primeiro evangelista dilacera a
visão de Rei imperial em Jesus, tornando-o um servo sofredor que ao invés de
receber uma coroa dourada cintilante, recebeu uma coroa de espinhos pontiagudos.
Os discípulos diante de Deus não o reconheceram (Rm 1: 20-23). Como assim? E as
palavras de Pedro “Tu és o Cristo” (Mc 8: 29)? Naquela época “o Cristo”, não era considerado
divino. Somente César podia ser chamado “filho de Deus”.[3]
Jesus assumindo o trono imperial seria a confirmação de que verdadeiramente ele
era o “filho de Deus” e ninguém mais sofreria.
Dessa forma, fica claro porque Pedro
chama Jesus e o repreende em particular. O verso 31 deixa claro qual é a
mentalidade dos discípulos em ver Jesus Rei, o Messias não pode sofrer. A
palavra “repreender” (Mc 8: 32) no grego “é o mesmo verbo usado em outras
passagens quando Jesus repreende demônios. Significa que Pedro condena a
atitude de Jesus com a linguagem mais forte possível.”[4]
Pedro achava que sabia mais do ministério de Cristo do que o próprio Cristo. A
atitude errada do discípulo ainda permanece atual, pois quantos de nós achamos
que sabemos mais do que Deus, procurando respostas para as nossas aflições,
esperanças, sonhos e tantas outras coisas fora das Escrituras?
Fora dos muros de Jerusalém, no Gólgota, está montado
o palco para o maior espetáculo público: a crucificação do Rei dos judeus. O
evangelista deixa evidente todos os grupos de pessoas na cena e nos mostra a
seguinte realidade: ninguém busca a Deus.[5] Inclusive
os próprios sacerdotes, juntamente com os escribas (aqueles que deveriam “estar
por dentro” do contexto messiânico), pedem um milagre: “Desça da cruz, para que
o vejamos e creiamos”. No entanto, eles mentem, pois de acordo com Jo
11: 47 eles reconhecem os milagres de Jesus,
mas acreditam que sua fonte é satânica (Mc 3: 22). Sendo assim, na concepção
dos sacerdotes e escribas quem estava na cruz em Jesus era belzebu e, portanto,
Jesus estava sem poder algum. O pecado cegou o entendimento dos sacerdotes e
escribas[6], pois o milagre que pedem
é justamente a vontade do Diabo: tirar Jesus da Cruz. Porque “se Jesus salvasse a si mesmo
não poderia salvar a nós. Se Ele descesse da cruz, nós desceríamos ao inferno.
Porque Ele não desceu da cruz, nós podemos subir ao céu.”[7],
os mestres da lei não compreenderam isso. É na
fragilidade de Jesus que somos salvos.
Então
o Diabo saiu vitorioso enquanto Jesus estava na cruz e na ressurreição Deus dá
a cartada final e vence Satanás? Não. Segundo Franklin Ferreira esta ideia é
profundamente errada. Na verdade, é na cruz que o diabo é derrotado. Na
fraqueza de Deus, todos os nossos inimigos são vencidos.[8]
O
Evangelho nos ensina que a morte foi morta pela morte de Jesus Cristo. E esta é
toda a nossa esperança.[9] Não foi pelo nascimento (de
Jesus), mas pela sua morte que nós fomos reconciliados com Deus[10].
Na Cruz houve derramamento de sangue para remissão de pecados (Hb 9: 22), na
ressurreição houve justificação (Rm 4: 25) para nos relacionarmos com o Pai.
Segundo
os sacerdotes e escribas quem estava na cruz era belzebu, no entanto, este
mesmo os cegou usando-os para a sua vontade: tirar Jesus da Cruz. A condição
humana não compreende que o “verdadeiro perdão exige sofrimento.”[11] Jesus deixou a intimidade
que tinha na eternidade, para que pudéssemos desfrutar dela. E quantos de nós
ainda temos atribuído uma obra que é Deus a satanás? Não compreender quem
realmente está na cruz, é o mesmo que se igualar aos escarnecedores.
Autor: Thiago Andrade
Edição
e Revisão: Thalyta Priswa
Crédito da imagem: Reprodução Google
[1] Herman Bavinck. Teologia
Sistemática. SOCEP. 2001.
[2] Ibid
[3] Timothy Keller. A Cruz do
Rei. 2012.
[4] Ibid
[5] Rm 3: 10
[6] 2 Co 4: 4 – o mesmo deus
que cegou o entendimento dos descrentes para não ver a luz do evangelho da
glória de Cristo, cegou também os descrentes diante da cruz: os principais
sacerdotes e escribas.
[7] Hernandes Dias Lopes. Marcos:
O evangelho dos milagre. Hagnos. 2006.
Cl 2: 11-15
[8] Franklin Ferreira. O credo
dos Apóstolos: as doutrinas centrais da fé cristã. Fiel. 2015. (Cl 2: 11-15)
[9] Ibid
[10] Herman Bavinck. Teologia Sistemática. SOCEP.
2001.
Rm 5:
10
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